quarta-feira, 25 de julho de 2012

Uma questão lateral


UMA QUESTÃO...LATERAL

2000, Escalona e Diogo Luís; 2001, Pesaresi e Caneira (adaptação); 2002, Fyssas e Ricardo Rocha (adaptação); 2003, Ricardo Rocha (adaptação) e Cristiano; 2004, Fyssas e Dos Santos; 2005, Léo e Dos Santos; 2006, Léo e Miguelito; 2007, Léo e Sepsi; 2008, Jorge Ribeiro e David Luíz (adaptação); 2009, César Peixoto (adaptação) e Shaffer; 2010, Fábio Coentrão (adaptação) e César Peixoto (adaptação); 2011, Emerson e Capdevila; 2012, Luisinho e Melgarejo (adaptação).
É esta a chocante lista de laterais-esquerdos com que o Benfica iniciou cada uma das últimas treze temporadas. Se descontarmos as adaptações (devidamente sinalizadas, e de entre as quais somente Coentrão vingou) sobram Léo, e, vá lá, Fyssas. Capdevila teve um passado grandioso, mas chegou ao clube com 34 anos. O resto? Lixo ou quase!
Não faço ideia de quem seja a culpa (Jesus? Vieira? Rui Costa? Domingos Oliveira? Financiadores? Azar?), mas já começam a escassear justificações para tão gritante, e repetido, problema. Na verdade, o Benfica tem-se reforçado bem em todas as outras zonas do terreno (sobretudo desde 2008), mas, época após época, parece fazer gala em não contratar um lateral-esquerdo de qualidade. Ninguém de bom senso entende porquê.
Este capricho (é só como lhe posso chamar) tem custado muito caro. Se, por exemplo, verificarmos como em partidas fundamentais da temporada passada Emerson foi protagonista pela negativa (em Braga, e com o FC Porto e com o Chelsea na Luz), perceberemos mais cabalmente o quanto uma simples posição mal preenchida pode condenar toda uma equipa.
Tudo isto resulta agravado quando vemos que Mathieu, Álvaro Pereira, Ansaldi, Didac, Alex Sandro, Rojo, e mais alguns, acabaram noutras paragens, depois de dados como quase certos no Benfica. Os casos de Álvaro Pereira (comprado pelo FC Porto por 4,5 milhões, antes do Benfica declarar que sempre havia preferido… Shaffer) e Rojo (adquirido agora pelo Sporting por 4 milhões, quando os encarnados ofereciam 3,6 milhões) são particularmente chocantes, sendo que o primeiro teve, dois anos depois, uma oferta de 30 milhões, e ambos são internacionais “A”, por Uruguai e Argentina respectivamente. Neste período de tempo os encarnados deixaram também fugir nomes como Cissokho (que se exibia a apenas 40km de distância) e Ínsua (que o Sporting conseguiu trazer para Lisboa, em condições muito favoráveis).
A saga do lateral-esquerdo do Benfica é já um clássico de pré-época (contrata/não contrata), e…de toda a época (buraco, adaptações, golos sofridos, derrotas). Agora a história repete-se, cheirando-me que, depois de Escalona, Diogo Luís, Pesaresi, Miguelito, Sepsi, Jorge Ribeiro, Shaffer, César Peixoto e Emerson, os próximos crucificados serão Luisinho e Melgarejo (o primeiro um bom suplente, tal como, aliás, Emerson; o segundo um excelente extremo; nenhum dos dois um titular credível para o lugar em causa).
Depois de muito puxar pela cabeça, a única razão que encontro para este estranhíssimo caso é um eventual desfasamento entre aquilo que vale hoje um bom lateral-esquerdo no mercado, e aquilo que os responsáveis benfiquistas julgam valer – avaliando sistematicamente por baixo as suas propostas. Não se entende, por exemplo, como se dá 8 milhões por um jovem como Ola John (não estando em causa o seu talento, mas havendo Gaitán, Bruno César, Nolito, Enzo Perez, Melgarejo e Yannick no plantel), e se recusam apenas 400 mil euros mais para ganhar a corrida a um lateral-esquerdo internacional argentino, também ele bastante jovem.
Enfim. O mercado ainda está em aberto, e acredito que até ao dia 31 de Agosto seja encontrada uma solução. Espero que esta novela tenha fim, e o Benfica possa enfrentar a época com uma equipa compacta e equilibrada (tão forte quanto possível), e não com treze (!) avançados e nenhum lateral-esquerdo. Se acontecer o que temo, os custos pagar-se-ão em pontos, e provavelmente em títulos.