quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Quanto pior, melhor


Sou um defensor do treinador Jorge Jesus. Porquê? Porque não tenho memória curta. O Benfica jogou na época transacta como eu nunca tinha visto ao longo da minha vida. A atitude, a vontade de ganhar, a sinergia com os adeptos e a potencialização dos jogadores foi arrebatadora. 
Problema. 
Isto foi na época passada.
Este ano, como por magia negra, a equipa deixou de acreditar em si própria e no próprio treinador. Já por demasiadas vezes escrevi sobre a má planificação da época do Benfica e as suas consequências ao longo da mesma. Já escrevi várias vezes que os dois jogadores que saíram (Di Maria e Ramires) não foram substituídos correctamente. 
E agora?
Na minha opinião, o tempo de Jesus no Benfica chegou ao fim. Nesta altura, chegamos ao ponto em que quanto pior, melhor. Tenho pena que as coisas tenham chegado a esta situação e que um treinador campeão tenha este desfecho no meu clube mas não vislumbro outra saída (quando situações destas acontecem, reflectem o estado da organização dos clubes porque é obrigação dos dirigentes anteciparem-se aos problemas, ao invés de reagirem tardiamente). 
Jorge Jesus mudou? 
Claramente, sim. A garra, atitude e a crença, da época anterior, foram substituídas por um treinador amorfo, resignado e por vezes medroso.
Luís Filipe Vieira mudou?
Infelizmente, não. Nas últimas eleições votei em LFV, não pelas promessas, mas sim, pelo trabalho de recuperação do clube. Hoje somos um clube com memória, com as modalidades recuperadas, com uma estrutura profissional, com muitos sócios, com um canal de TV, com um novo estádio, com uma academia de futebol, com um plantel rico e em que os excedentários fariam a delícia de muitos treinadores. Não esqueço, igualmente, a sua luta contra o sistema durante o processo apito dourado, bem como, o seu esforço na dinamização das casas do Benfica em todo o mundo. 
Infelizmente, porquê?
Porque continua a não ter uma actuação próxima daquilo que eu acho que um presidente do clube deve ter em relação ao futebol. Quer no discurso, quer na prática. Em relação ao discurso, fazia-lhe bem uma banho de humildade e acabar com a fanfarronice. Ser coerente nas intervenções também não vinha a despropósito. Em relação à prática, o presidente deve delegar no seu director desportivo a responsabilidade na condução do futebol. Em caso de insucesso o director desportivo deve ser responsabilizado e em último caso demitido (mesmo que se chame Rui Costa). Revelar em entrevistas que falava ao telefone com Jorge Jesus sobre futebol, durante a noite, é representativo do que escrevi anteriormente e menoriza o papel do director para o futebol. Ser responsável pelas vitórias e estar ausente nas derrotas começa a ser a sua imagem de marca. Isto é importante? Porventura não, mas desgasta a imagem de todos os envolvidos.
E o futuro?
Em relação ao treinador, penso que a situação que melhor espelha o estado em que estamos é, quanto pior, melhor. Quanto pior resultados o Benfica fizer, mais depressa Jesus será substituído. Pena é que, mais uma vez, o principal prejudicado seja o clube. Domingo vou à Luz e, sinceramente, estou à espera de lenços brancos, assobios, afastamento da taça de Portugal, contestação, reunião dos dirigentes pela noite dentro e, finalmente, anúncio da rescisão do contrato com a equipa técnica. Enfim, um dejá-vu no futebol do Benfica. Depois, colocação de um treinador interino até às férias natalícias e contratação de Luís Filipe Scolari.
Em relação ao presidente, aguardo as próximas eleições com expectativa porque acredito que o tempo de LFV no Benfica está a chegar ao fim. Desenganem-se, no entanto, se pensarem que avalio de forma negativa o trabalho do presidente. Antes pelo contrário; para mim, LFV é um dos grandes presidentes do Sport Lisboa e Benfica.