Quando em tempos idos me preparava para concluir a licenciatura na Universidade de Coimbra, houve um tema que assaltava as mentes dos finalistas: a viagem de finalistas. Uns queriam aproveitar o dinheiro angariado em diversos eventos para poder ir para destinos mais exóticos, enquanto outros se lamuriavam por não terem o dinheiro necessário para poder seguir na viagem. A viagem para os sítios mais caros obrigava a colocar dinheiro para além do que tínhamos conseguido amealhar. Entre reuniões oficiais e oficiosas os dias iam passando sem conseguirmos chegar a qualquer conclusão. Houve, porém, um dia e uma reunião em que um daqueles colegas mais reservados tomou a palavra e disse: "ou vamos todos, ou ficamos todos". E assim foi, não houve ninguém que tenha ficado em terra devido a motivos financeiros (escolhemos um destino mais barato). Encontro paralelismo nesta história, com a actual situação do meu Benfica. O Benfica é um clube de origens humildes, criado e levado ao colo pelos seus associados. Em tempos difíceis, seria bom que a direcção tivesse em conta a realidade do clube. Quantos adeptos não quereriam assistir aos jogos e, no entanto, não têm dinheiro para o fazer? Quando o preço do bilhete de cinema é de cerca de 5 euros e, mesmo assim, as salas estão desertas, não vai ser a paixão clubista que vai conseguir encher estádios com preços 3, 4 e 5 vezes superiores aos preços do cinema. Como pode uma família ir ao estádio, se o preço para associados é de, no mínimo, 10 euros? No caso da minha família são 25 euros por jogo, fora os transportes públicos ou a gasolina (porque moro em Lisboa). Se a política de preços do clube se mantiver, o Benfica está a trair a sua História porque estes preços conduzem a um certo elitismo que é contra-natura no nosso clube. É altura do clube voltar a ser clube e deixar para segundo plano a empresa, porque só o clube pode perdurar. O meu repto a esta direcção é que baixe o preço dos bilhetes e das quotas para níveis comportáveis com a realidade portuguesa (porque não baixar 50%?) mesmo que se possa perder competitividade com a descida dos custos do plantel. Em tempos em que discute a entrada de portugueses no onze do Benfica eu diria que é mais importante discutir a entrada de portugueses no Estádio da Luz.